A pauta ESG como fator de desenvolvimento empresarial

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, anunciou, na semana passada, a concessão do primeiro financiamento da linha BNDES CRÉDITO ASG (do inglês ESG), a uma metalúrgica que adaptará sua estrutura visando a redução nas emissões de gases poluentes. Esta linha foi lançada em agosto de 2021 com o objetivo de incentivar práticas empresariais mais eficientes e sustentáveis, e possui recursos financeiros disponíveis com taxas de juros, prazos de pagamento e de carência bem atrativos, mas que exige da empresa solicitante a apresentação de contrapartidas mínimas, e todas relacionada à pauta ESG, como: apresentação da Política de Responsabilidade Socioambiental; incorporação de focos prioritários de atuação em educação e diversidade na Política de Investimento Social, caso não possua; e apresentação de Relatório de Sustentabilidade no modelo de Relatório Global Reporting Initiative (“GRI”).

Outros bancos de desenvolvimento seguem essa tendência, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, BRDE, por exemplo, possui empréstimos internacionais que oferecem funds em condições especiais, como os advindos do Banco Europeu, com a Agência Francesa de Desenvolvimento e do Banco de Desenvolvimento da América Latina – CAF, para serem aplicados em programas e linhas de financiamento, alocando recursos em projetos e iniciativas na área ambiental. O BRDE pretende, em 2022, tornar-se o primeiro “banco verde” do Brasil, privilegiando o financiamento de projetos sustentáveis e colaborando para o cumprimento do compromisso assumido na COP26 de neutralização das emissões de carbono. .

Isso nos mostra a crescente necessidade de as empresas realizarem sua adequação ESG, por meio de criterioso levantamento de conformidade legal, regulatório, normativo e de boas práticas. O processo de adequação envolve análise da materialidade dos riscos e impactos, considerando a realidade e porte de cada empresa, e a criação de um plano de ação com pauta para, em primeiro lugar, garantir o compliance, e, em segundo lugar, determinar quais ações socioambientais podem ser tomadas, com consequente implementação e monitoramento dos resultados.

Nesse contexto, a elaboração de um Relatório de Sustentabilidade é fundamental para formalizar esse trabalho e dar publicidade às ações tomadas pela empresa. É uma forma de comunicação com o mercado e a com sociedade. A divulgação desse relatório deve acontecer anualmente, em conjunto com os demonstrativos de resultados do exercício, aprimorando a relação com clientes e investidores, pela transparência e engajamento. No relatório, a empresa demonstrará seus valores, sua evolução quanto à agenda ESG, apresentando resultados práticos mensuráveis das iniciativas realizadas e traçando metas para o futuro.

A metodologia mais utilizada hoje, mundialmente, para a elaboração de um Relatório de Sustentabilidade é a GRI - Global Reporting Initiative. Fundada em 1997 em Boston, nos Estados Unidos, e hoje com sede em Amsterdã, nos Países Baixos, a GRI é uma organização sem fins lucrativos, que foi pioneira na padronização das informações contidas nesses relatórios. Os relatórios no padrão GRI trazem ainda o diferencial de vincular cada ação a um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Hoje, no Brasil, existem em torno de 500 empresas dos mais diversos tamanhos e setores que já publicam seus Relatórios de Sustentabilidade nos padrões GRI, dentre as quais, podemos citar: Ambev; Boticário; Klabin; Itaipu Binacional; Natura; Renault do Brasil; Renner; Petrobras; BRF, entre outras.

A gestão aplicada por meio da visão ESG ultrapassa os padrões tradicionais, voltados somente aos interesses dos shareholders, que são os acionistas, para uma visão mais ampla e integrada, que considera os interesses de todos os stakeholders, que são as partes interessadas (todos que de alguma forma, direta ou indiretamente, são afetados pela atividade da empresa). Ou seja, a gestão adequada à pauta ESG, consegue analisar e antecipar melhor seus riscos, e por isso é uma visão que possibilita o crescimento sustentável robusto e de longo prazo, da empresa e da sociedade.

Por fim, um projeto de adequação ESG traz uma forma de monitorar a aplicação, em toda a sua abrangência, das métricas ESG adequadas ao setor de enquadramento da empresa, além de gerar, por meio de documentos juridicamente estruturados, como o Relatório GRI, as evidências das suas efetivas aplicações. Ademais, para além de benefícios econômicos para as empresas, impacta positivamente com benefícios sociais, ambientais e econômicos para todos.

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